Minha prima Patrícia, desde á muito que ando para te escrever, mas nunca tive coragem, força, nem tão pouco “sentimento” para o fazer, sinceramente é tudo difícil, sinto raiva de mim própria por ter sido e continuar a ser tantas vezes injusta para contigo, mas são actos que vêm do meu interior que como disse não tenho forças suficientes para os fazer parar, para os deter! Sabes, falar de ti, descrever-te, exprimir o que sinto em relação a ti, dá-me arrepios, dá-me medos, por me relembrar de tudo o que já passas-te com a tua idade, e de tudo o que eu própria ainda te faço passar. Quero escrever até não parar, desejo gritar para te poder ajudar, anseio por te dar uma explicação pelo meu sentimento, pelos meus vários comportamentos, mas é quase impossível amor, não consigo, o medo aterroriza-me, os arrepios descontrolam-me, e existem lágrimas a quererem escorrer pela minha face, mas eu faço força para isso não acontecer porque sei que estás aqui deitadinha ao meu lado, e não me queres ver triste, mas se sentires uma lágrima minha não fales, não te mexas, não me abraces, não grites, simplesmente mantêm-te assim como estás, bem aconchegada a mim, sinto-me bem assim, “está quentinho e tudo”. Estas lágrimas devem-se a muito, muito esse inexplicável, algumas delas devem-se à raiva que corre no meu interior, mas, simplesmente quero ser sincera mas tenho medo de te magoar, mas eu sei que vais compreender, sei que és o forte o suficiente. Sabes quando eu notei que iria ter alguém mais na minha casa, que ocuparia muitos dos meus espaços, que me iria também ocupar um lugar na cama, e um lugar no coração da minha mãe senti ciúmes, fui demasiado egoísta, não te quis, pois sentia que tu não pertencias aqui, que eu sim era a perfeita e tu não, tu continuavas com a tua irmã a sofrer, sempre que me recordo do meu comportamento apetece-me desaparecer, fugir, até morrer, tu não merecias, não merecias eu ter sido assim… Passaram dias e dias, horas e horas, minutos e minutos, segundos e segundos e eu não parava de pensar que ias começar a ocupar o “meu” lugar, não sabia que fazer, sentia-me num terror, pois estava a viver sem pensar em mais ninguém, simplesmente em mim, e não me lembrava que a minha prima, a minha pita, precisava de mim, precisava de uma casa, precisava de uma “nova” família, até que chegou um dia e a minha mãe fez-me a pergunta final: “aceitas a tua prima, que tanto precisa de ti?”, eu apenas disse: “sim, ela vai ser alguém na vida, porque eu quero, porque um dia vai dizer que nós sim fomos bons para ele, que nós sim estamos aqui, ela merece isto, e muito mais”, e desatei a chorar, de alegria pois sabia que estava a cometer o certo, foi a escolha mais acertada até hoje na minha vida, acredita, senti que “finalmente” irias conseguir ser feliz, graças a mim! Naquela altura, fui tão má, não sei como fui capaz, sinceramente naqueles momentos não me conheci amor, e peço-te imensa desculpa por tudo o que te fiz, o que te disse, sei que te magoei bastante, e que houve muito sofrimento mas não foi só da tua parte, acredita!
Hoje, grito bem alto, que tenho uma irmã mais nova, que tenho a melhor amiga comigo, a melhor confidente, resumidamente a minha MAIS-QUE-TUDO, acredita minha irmã és-me tudo, já não me imagino a viver sem os teus beijinhos, os teus abraços, sem as tuas conversas sem nexos nenhuns, já nem consigo dormir sem sentir-te aqui a meu lado, sem tocar na tua carinha fofinha enquanto dormes, se agora fosses embora não iria mais viver, a minha vida não continha mais razões, mais incentivos, sim porque hoje sim admito que vivo para ver-te crescer, ver-te feliz, ver-te cada dia que passa com aquele enorme sorriso, que durante a tua infância não o vi, aliás vi, mas não tão sentido por várias razões das quais um dia que queiras falar, desabafar, ou até gritar eu estarei aqui, prometo, prometo mesmo amor.
Sei que um dia, vamos ambas crescer, seguir rumos de vida diferentes, talvez até me deixarás, talvez até eu te deixarei, não sabemos, apenas duma coisa eu sei, serás feliz porque é o que eu peço e sempre que precisares de algo grita por mim, ou pela tua irmã apesar de tudo ela te ama imenso, e sente muito a tua falta, por metade sinto que te tirei dela, mas como tudo na vida, é injusto, é injusto ela estar sem ti sim, mas era injusto não seres feliz amor, e sei que um dia nós nos juntaremos as três e riremos disto tudo! Podes agora não compreender metade deste “excerto”, mas um dia vais o voltar a ler, e vais ver que tudo tem sentido, pode agora não ter, mas um dia irás ver minha irmã! Sabes bem, estarei aqui SEMPRE, para falar, para acariciar, para rir, para chorar, para gritar, para abraçar, para ensinar, para discutir, para me chatear contigo, para limpar, para sujar, para experimentar, para contar, para ouvir, para escutar, para tudo, TUDO mesmo, é uma promessa, junto de uma corrente, corrente essa que só vai quebrar, quando meu coração deixar de bater, quando já não sentires a minha respiração, quando já não ouvires minha voz a chamar por ti, quando já não me sentires.
Não te esqueças, eu amo-te minha “irmã”!
